Assisti, mais uma vez, “Quase dois irmãos”, direção de Lúcia Murat. Filme fantástico! História de dois meninos que se conhecem na década de 50 porque o pai de Jorginho era um grande sambista negro e, o pai de Miguel, um jornalista branco apaixonado pela cultura produzida nos morros cariocas daquela época. Eram quase dois irmãos...
Na década de 70, durante a ditadura militar, os dois se reencontram na prisão Ilha Grande. Jorginho, traficante. Miguel, preso político. Mundos distintos que se cruzam no cárcere e se afinam pela batucada improvisada do pandeiro e do violão: “quem me vê sorrindo, pensa que estou alegre” – Cartola e Carlos Cachaça. Mundos que não se misturam porque, uma vez livres, Jorginho continua no tráfico e Miguel se elege Senador da República! Um abismo! Os filhos de Jorginho, entregues à própria sorte! A filha de Miguel, garota zona sul! Esta, assim como o pai e o avô, também vai ao morro. Mas, “a vida lá já foi mais bela” – Paulo Cesar Pinheiro. O cenário que, outrora, encantou seu avô foi tomado pelos bailes funk e pelo tráfico. “Você quer construir um programa social ou salvar a sua família?”, pergunta Jorginho quando recebe uma proposta do Senador Miguel para conter a violência no morro... Nosso grande poeta Pinheiro disse tudo:
O galo já não canta mais no Cantagalo/A água não corre mais na Cachoeirinha/Menino não pega mais manga na Mangueira/E agora que cidade grande é a Rocinha!/Ninguém faz mais jura de amor no Juramento/Ninguém vai-se embora do Morro do Adeus/Prazer se acabou lá no Morro dos Prazeres/E a vida é um inferno na Cidade de Deus/Não sou do tempo das armas/Por isso ainda prefiro/Ouvir um verso de samba/Do que escutar som de tiro/Pela poesia dos nomes de favela/A vida por lá já foi mais bela/Já foi bem melhor de se morar/Mas hoje essa mesma poesia pede ajuda/Ou lá na favela a vida muda/Ou todos os nomes vão mudar!
Viva a música popular brasileira! Viva o samba! Viva o cinema nacional!
Jussara.
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